por Analu Bussular
Entenda um pouco mais sobre uma das vertentes de psicologia na qual nos baseamos.
Você já percebeu que muito do que se fala sobre psicologia na sociedade tem como foco a questão das doenças mentais? Muito provavelmente, inclusive, é por causa disso que existem tantos tabus relacionados a acompanhamentos psicológicos e, embora atualmente em menor grau, ainda podemos ouvir pessoas dizendo que fazer terapia é “coisa de gente doida”.
Existem, no entanto, vertentes da psicologia que focam na saúde preventiva, buscando o fortalecimento da sanidade mental como forma de minimizar os riscos de doenças. É aí que entra a psicologia positiva, que aparece para somar e contribuir aos métodos tradicionais.
Quando falamos de Psicologia Positiva parece que estamos falando de um conceito totalmente novo, mas vários psicólogos com uma visão humanista, como o famoso Carl Jung, já desenvolviam em seus estudos teorias e práticas bem sucedidas a respeito da felicidade humana. Seus sucessores, entretanto, não deram sequência a essas obras.
Foi a partir de 1998 que o termo começou a aparecer, quando Martin Seligman assumiu a presidência da Associação Americana de Psicologia. Ele costumava discursar sobre como a psicologia andava negligenciando estudos de aspectos virtuosos da natureza humana. Outros autores, como Simone dos Santos Paludo e Silvia Helena Kooller, ao se debruçarem sobre o assunto, observaram que a quantidade de artigos publicados sobre a felicidade era muito inferior à quantidade de artigos publicados sobre a depressão. Seligman apontou então, juntamente com Mihaly Cziszentmihalvi, um psicólogo húngaro, que muito disso poderia ser justificado pela falta de rigor metodológico dos resultados produzidos pelas teorias psicológicas humanistas, o que acabava por enfraquecê-las.
Para começar a resolver isso, Seligman se dedicou à construção de instrumentos de avaliação e modelos de intervenção que permitissem analisar aspectos socioemocionais de forma preventiva, ou seja, antes que eles se tornassem um problema real. Essa foi uma proposta teórica inovadora na época de sua criação, no ano de 2002, mas continua sendo pouco divulgada atualmente. Seu principal foco de estudo é a criação de métodos preventivos, com o aprimoramento de técnicas de avaliação psicológica que atuem na identificação das virtudes e dos aspectos positivos, ampliando o escopo de estudo das ciências sociais e humanas. A principal missão dessa vertente, no momento, é a operacionalização de instrumentos de avaliação e classificação dessas habilidades socioemocionais, chamadas também de forças pessoais.
Terapia Positiva
Além do foco na prevenção, outra grande importante contribuição do movimento é a terapia positiva, que visa fortalecer os aspectos saudáveis e positivos dos indivíduos, além de fortalecer suas virtudes e forças pessoais, ajudando os pacientes a encontrarem em si mesmos recursos pouco ou nunca explorados que possam culminar numa mudança benéfica. É importante frisar que a adoção dessa corrente positiva visa um direcionamento de alcance de um positivismo realista, não de um otimismo idealizado. Ainda em seus estudos, Seligman conseguiu identificar que 90% dos pacientes se sentiram beneficiados com o tratamento, que aumentando a prática das forças pessoais já existentes dentro de cada um ao invés de eliminar diretamente os sintomas, busca, assim, fortalecer o que está bom.
Essa orientação positiva da terapia reconhece que os traços favoráveis, quando incentivados, servem como fatores de proteção contra dificuldades futuras e focos de estresse. Dessa forma, ao tomarem conhecimento de seus aspectos positivos, as pessoas adquirem uma melhor capacidade de lidar com eventos difíceis, tornando-se, assim, agentes ativos na superação de suas vulnerabilidades e riscos. Com isso, percebemos que tratar não significa apenas consertar o que está com defeito, mas cultivar o que existe de melhor. Aprendemos que patologizar não nos aproxima da prevenção dos transtornos; o que nos aproxima da prevenção é, bem, focar na própria prevenção.